Esse talento de descobrir coisas que me lembram você e simplesmente sentir o coração se aquecer, como se de repente fosse verão no meu peito. Eu me odeio por perceber que os dias passam e por mais coisas que eu tenha para fazer, os meus pensamentos me direcionam até você como se eu dependesse disso para sobreviver. E sim, adoro pensar em você. Lembrar cada tirada, cada toque, o timbre da sua voz, saborear cada gesto como um enólogo avaliaria vinhos nobres.
Pode ser uma música, um perfume, um livro, um filme. Qualquer coisa. Lá estou eu pensando em você. Implorando por uma mensagem de texto ou desejando ouvir sua voz desesperadamente, como se este fosse o último dia da minha vida. Me condenando por ser tão adolescente, tão passional, tão covarde, tão apaixonada. (Me condenando) Por gostar de quem não gosta de mim.
Mesmo trilhando os caminhos mais tortos e vencendo os obstáculos mais difíceis, no fim da estrada sempre me dou conta de que faço tudo errado para refletir um minuto e perceber que você tem o mapa certo para eu traçar as rotas da minha vida confusa e colocar ordem no caos.
Você comete os mesmos erros que eu. Tenta ser tão ponderado como eu, mas acaba se atrapalhando todo e se doa por inteiro. Quer se levar a sério mas acaba desistindo e rindo da grande piada que a vida se tornou. Se nega a dar o braço a torcer. Fala pausadamente para explicar seu ponto de vista. Eu gaguejo como poucos para defender os mesmos pontos de vista, então por isso escrevo. Luta com a agenda há anos, e assim como eu falha miseravelmente.
Será que estamos levando muito a sério aquela oração que pede períodos de paz e paixão alternados, como se estas fossem chuva e Sol? Uma precisando da outra para dar sentido à existência, afinal. Reconheço que a calmaria é boa para colocar as coisas no lugar, tentar organizar a vida, mas a paixão também é fundamental para se sentir viva. Colocar em xeque todas as nossas certezas.
Mas longe de você me sinto refém de lembranças. Minto para mim dizendo que fui eu que mais uma vez dourei a pílula. Nem foi tão bom assim. Eu que não soube aceitar o fim. Ao mesmo que sou a refém, sou a culpada de um crime que nem cometi. Me acuso de erros que nem sei se cometi. Resumindo: não consigo aceitar. O tempo ajuda a esquecer, e o dia a dia vai continuar me assombrando, até o dia que simplesmente tudo isso irá desaparecer. Até mesmo eu desaparecerei. E só restará o vazio de uma mente sem lembranças.