Em meados de 2002, senão me engano, o escritor Antonio Prata publicou na revista Capricho uma crônica chamada "A dieta do alpiste" onde manifestava sua opinião sobre essas pessoas que exageram na busca por uma alimentação saudável. Já não se falava mais apenas em anorexia e bulimia, mas também em ortorexia, que é uma doença causada pela obsessão em ter uma alimentação saudável. Segundo ele, foi a coluna que teve mais repercussão na época. Os vegetarianos se sentiram ofendidos. Ele teve de ler coisas lisonjeiras como "não tenho culpa se você faz do seu estômago uma lixeira". (Ou coisa parecida, afinal, tem 10 anos que a crônica foi publicada, eu não tenho a revista em mãos e minha memória não é tão boa assim, convenhamos).
Dez anos depois as coisas não mudaram nada. Agora não é só você que é obrigada a ser magra. A sua comida tem de ser magra também. (Neste ano também saiu um post no site da revista TPM criticando essa palhaçada de comida magra). Posso jurar que antigamente sua avó cozinhava com manteiga, tomava leite fresquinho, usava açúcar ao invés de adoçante e tava tudo certo. E ela era magra. Não seria as mordomias tecnológicas que tornaram a vida mais fácil e por consequência, mais sedentária também?
Aquela caminhadinha que você fazia ao ir no banco foi substituída pelo internet banking e débito automático. Você não precisa passar roupas com ferro a carvão. Não precisa cozinhar no forno à lenha. Você não usa as escadas porque tem elevador. E todas estas facilidades trouxeram o sedentarismo na aba. É fácil pôr a culpa na comida. Difícil é reconhecer seus maus hábitos.
Sim, existem pessoas que devem fazer restrições a certos alimentos, como quem tem intolerância ao glúten lactose. Não podem comer açúcar em excesso, como os diabéticos. Agora se você é saudável, precisa mesmo ficar acusando a comida de ser gorda? Ou pedindo desculpas por comer um brigadeiro? Ou repetir o prato? De todos os problemas que a gente tem, precisa mesmo transformar uma refeição em uma verdadeira guerra? Ou como diria o Antonio Prata: precisa acreditar que comer atrapalha a digestão?
Adoro comer. Não me privarei disso. E quem convive comigo sabe. Algumas pessoas com quem eu trabalhei diziam que eu era uma "companhia engordativa". Sempre tinha bons biscoitos na minha gaveta, sempre levava um lanchinho para degustar no meio do caminho ou fazia uma sobremesa quando não tinha nada para fazer. Eu me relaciono bem com a comida. Agora se você não se relaciona bem, tá na hora de rever seus conceitos. E parar de encher o saco alheio com esse papo de "comida magra".
Mais: dizem por aí que os bons de garfo ou una buona forchetta (como se diz em italiano) são considerados bons no "lê lê lê", se é que você me entende. Reflita sobre seus hábitos à mesa.
Talvez eles podem...deixe eu ficar quieta...