26 de outubro de 2012

QUANDO COMER ATRAPALHA A DIGESTÃO


Em meados de 2002, senão me engano, o escritor Antonio Prata publicou na revista Capricho uma crônica chamada "A dieta do alpiste" onde manifestava sua opinião sobre essas pessoas que exageram na busca por uma alimentação saudável. Já não se falava mais apenas em anorexia e bulimia, mas também em ortorexia, que é uma doença causada pela obsessão em ter uma alimentação saudável. Segundo ele, foi a coluna que teve mais repercussão na época. Os vegetarianos se sentiram ofendidos. Ele teve de ler coisas lisonjeiras como "não tenho culpa se você faz do seu estômago uma lixeira". (Ou coisa parecida, afinal, tem 10 anos que a crônica foi publicada, eu não tenho a revista em mãos e minha memória não é tão boa assim, convenhamos).

Dez anos depois as coisas não mudaram nada. Agora não é só você que é obrigada a ser magra. A sua comida tem de ser magra também. (Neste ano também saiu um post no site da revista TPM criticando essa palhaçada de comida magra). Posso jurar que antigamente sua avó cozinhava com manteiga, tomava leite fresquinho, usava açúcar ao invés de adoçante e tava tudo certo. E ela era magra. Não seria as mordomias tecnológicas que tornaram a vida mais fácil e por consequência, mais sedentária também?

Aquela caminhadinha que você fazia ao ir no banco foi substituída pelo internet banking e débito automático. Você não precisa passar roupas com ferro a carvão. Não precisa cozinhar no forno à lenha. Você não usa as escadas porque tem elevador. E todas estas facilidades trouxeram o sedentarismo na aba. É fácil pôr a culpa na comida. Difícil é reconhecer seus maus hábitos. 

Sim, existem pessoas que devem fazer restrições a certos alimentos, como quem tem intolerância ao glúten  lactose. Não podem comer açúcar em excesso, como os diabéticos. Agora se você é saudável, precisa mesmo ficar acusando a comida de ser gorda? Ou pedindo desculpas por comer um brigadeiro? Ou repetir o prato? De todos os problemas que a gente tem, precisa mesmo transformar uma refeição em uma verdadeira guerra? Ou como diria o Antonio Prata: precisa acreditar que comer atrapalha a digestão?

Adoro comer. Não me privarei disso. E quem convive comigo sabe. Algumas pessoas com quem eu trabalhei diziam que eu era uma "companhia engordativa". Sempre tinha  bons biscoitos na minha gaveta, sempre levava um lanchinho para degustar no meio do caminho ou fazia uma sobremesa quando não tinha nada para fazer. Eu me relaciono bem com a comida. Agora se você não se relaciona bem, tá na hora de rever seus conceitos. E parar de encher o saco alheio com esse papo de "comida magra".

Mais: dizem por aí que os bons de garfo ou una buona forchetta (como se diz em italiano) são considerados bons no "lê lê lê", se é que você me entende. Reflita sobre seus hábitos à mesa.
Talvez eles podem...deixe eu ficar quieta...




24 de outubro de 2012

UM CASO DE MIOPIA


Depois da minha onda de sorte (em um intervalo de três dias achei R$70,00 no ônibus e na rua, respectivamente), fiquei esperando ansiosa pelo dia em que eu perderia alguma coisa. (Sim, eu sou o tipo de pessoa que sempre espera pelo pior, e não, não me orgulho disso. Obrigada pela atenção). Guardei o dinheirinho que achei com muito carinho no bolso de um blazer bege que  tenho que nunca uso por medo de sujar. Se guardasse no banco iria gastar, então eu fingia que não tinha aquele dinheiro. Foi uma sábia decisão.

Sábado, 20 de outubro de 2012, esta que vos escreve acordou e depois de arrumar a cama (é sempre a segunda coisa que faço ao acordar, porque a primeira coisa é sempre adiar o momento de se levantar o máximo que posso) fui ao banheiro escovar os dentes, lavar o rosto e finalmente, colocar as lentes de contato. Como sou uma pessoa controladora e acostumada com essa rotina, estava tranquila. Até eu fazer um movimento brusco (sempre faço movimentos bruscos e machuco a boca quando escovo os dentes, ou bato em algum móvel ou até mesmo nas paredes quando estou com pressa e ao mesmo tempo desligada demais do espaço físico das coisas ao meu redor) e sumir com a minha lente do olho direito. 

A experiência me ensinou a tapar o olho com a visão "gaussian blur" de quem tem 4,5 de miopia e procurar com o olho esquerdo onde estava a maldita lente. Tateei meu rosto. Olhei na pia. Tateei a pia durante um bom tempo. Procurei pelo chão. E nada.Para meu desgosto as lentes que eu usava eram exatamente meu último par e eu ainda não tinha nada no estoque (uso lentes descartáveis). Eu não tinha recebido. Então respirei fundo e me resignei, porque aqueles R$70 paus do começo da história finalmente tiveram seu destino traçado: comprariam novas lentes para mim!

Bem, domingo, 21 de outubro de 2012 esta que vos escreve fez tudo sempre igual e ao baixar os olhos para o azulejo, bem junto do rodapé, viu o pequeno pedaço de plástico azul grudado e ressecado. Não pude deixar de me sentir idiota, mas eu não enxergo bem, né? Então me perdoei, mais uma vez. E tomei mais cuidado ao colocar as lentes novas.

22 de outubro de 2012

DO QUE VOCÊ É FEITO?

Katy Perry canta em "Fireworks" que somos feitos de fogos de artifício:


Já o sumido Moby cantava em 2002 que nós somos feitos de estrelas, em "We Are All Made Of Stars":


E você, meu amor, é feito de quê?



19 de outubro de 2012

DAS COBRANÇAS QUE A GENTE RECEBE...MAS EU FINJO QUE NÃO





Eu li um chick lit chamado "Qual seu número?" onde a mãe de Delilah, a protagonista do romance, que cobrava um namorado da filha que chegava aos 30 solteira. E a própria Delilah se cobrava e se culpava por ter uma média de parceiros sexuais acima da média publicada pelo New York Times (ou Post).

Li um outro romance antes desse chamado "Sobre homens e lagostas" da Liz Gilbert. E a protagonista, Ruth, era cobrada para sair da ilha onde vivia apenas por ser herdeira de um milionário. Mas ela parecia não surtar. Ela apenas empurrava com a barriga e ia levando a vida.

Nunca conversei com meus amigos sobre cobrança. Afinal, os homens recebem algum tipo de cobrança? Citei acima duas mulheres que se cobravam ou eram cobradas a adotar uma conduta que se encaixava nos padrões da sociedade. Mas por que se encaixar, afinal?

Minha mãe biológica cobra que eu não namoro. Mas como eu a vejo de vez em quando não tem como sentir o peso da cobrança. Minha mãe adotiva vigia meu peso. De uns tempos para cá ela reclama que engordei. 

E devem existir outras mães que cobram outras coisas das suas filhas por aí. Por isso não considero tudo um fardo pesado demais de se carregar. Existem coisas mais urgentes exigindo minha atenção neste momento. E perder 5 kg poderia ser bom, admito, mas acredito que não seria suficiente para acalmar minha personalidade inquieta. 

Fora de casa as pessoas me cobram namorado, uma carreira bem-sucedida, um corpo perfeito...E elas vão continuar cobrando, porque eu trabalho, eu pago impostos, eu voto, eu cumpro com meus deveres. O resto eu acho que eu posso decidir sozinha, não posso?



17 de outubro de 2012

O PASSADO BATE À PORTA


Estava de joelhos, rezando e pedindo mais uma vez que o dia terminasse bem quando escutou passos vindo em sua direção e um cheiro familiar. Lembrava loção pós-barba e Trident de menta. Subitamente sentiu o estômago desabar. O cheiro parecia se aproximar cada vez mais. E o medo parecia crescer cada vez mais dentro de si. Ela estava dentro de uma igreja e era para se sentir confortável, em paz. Mas sentia-se cada vez mais apavorada. Não podia ser ele. Mãos gentis cobriram-lhe o rosto. Aquela voz tão familiar afinal perguntou:
- adivinhe quem é?

Pergunta em vão. Ela sabia muito bem quem era. Mas ela apenas fez um pedido, quase uma súplica, aproveitando que estava de joelhos mesmo, se sentindo apavorada, submissa e por que não dizer, um tantinho humilhada? Estava em desvantagem, não tinha nem como se defender, como fugir, estava de mãos atadas. Sua voz trêmula enfim pediu: vá embora!

As mãos gentis ainda lhe envolviam e sua voz era doce quando disse:
- Precisamos conversar!
- Não tenho o que falar com você. - ela disse,agressiva.
- Até quando você vai fugir de mim, Alê? 
- Pela eternidade.

Não gostava do jeito que Guilherme - era assim que ele se chamava - a perseguia desde que eles romperam. Nunca se conformou com o término do relacionamento. Na verdade Alê sentia-se mais como um objeto ou brinquedo caro do que uma pessoa quando namorava com ele. Era apaixonada por ele, mas ao mesmo tempo sentia-se paradoxalmente intimidada e amedrontada. Principalmente depois que ele lhe deu uma bofetada. Aí percebeu que era melhor parar por ali. E depressa.

Sofreu muito. Chorou demais. Achou que ia enlouquecer. E ele em contrapartida a perseguia, 
lhe ligava de hora em hora. Enviava rosas. Chocolates. Chegou ao cúmulo de mandar uma joia da Vivara. Estava irredutível. O tapa ainda ardia em seu rosto mas finalmente sentia-se aliviada. Mudou o telefone. Saiu das redes sociais. Mudou de endereço. E viveu em paz até aquele momento em que estavam agora. Não conseguia imaginar como ele a encontrou.

- O que você quer, Guilherme?
- Você de volta! - ele respondeu, decidido.
- Isso não vai ser possível. - ela retrucou.
- Por que você simplesmente não supera e me esquece? Você nem me ama mais, você só está com orgulho ferido.

Neste momento, as mãos gentis de Guilherme tornaram-se agressivas. Pegou-a pela cintura e colocou-a de frente para ele, que continuava muito bonito, muito impecável e elegante em suas roupas caras. Ela continuava despojada, usando calça jeans e camiseta, os cabelos presos displicentemente em um coque. O olhar assustado dela cruzou o olhar decidido dele. Ele não colocaria mais as mãos nela. 

Por isso mesmo não se intimidou e acertou um soco no rosto tão lindo que amou um dia. Dane-se que estava sendo violenta, estúpida, revidando da mesma maneira truculenta dele. Ainda olhou para trás e pediu perdão à Virgem Maria, rapidamente. O medo deu lugar a coragem. Era uma sobrevivente. Vê-lo tão bonito mexeu com seus sentimentos, mas ele já havia lhe dado provas de que a machucaria de novo se fosse necessário. Então julgou correto machucá-lo antes. Por ela e por todas as outras que ele já machucou.

  



15 de outubro de 2012

POR QUE VOCÊ FAZ O QUE VOCÊ FAZ?


Fiquei respirando fundo, com os olhos vidrados no teclado enquanto você explodia de fúria contra Hannah. Já perdi as contas de quantas vezes vi esse tipo de cena. E meu amigo, se você soubesse o quanto me incomoda, você ia parar de fazer isso já. Será que você nunca vai dar o benefício da dúvida a essa mulher? Será que ela vai ser sempre errada e seus "amigos" é que sempre vão estar certos? 

Entenda, não estou dizendo que Hannah está certa. Ou seus amigos errados. Ou vice-versa. Estou falando em você ser mais amistoso e ganhar a confiança dela para finalmente você descobrir os leões que ela mata discretamente e você não percebe. Na real, você não precisa ter conhecimento de coisas/situações que não vai saber lidar/resolver mesmo. 

Respirando fundo, a mente trabalhava rápido demais. Com quem ele falava ao telefone mesmo? Era com o cara que ele chama de "amigo", mas que já deu provas de que não é mui amigo assim. Se o cara/mina que você chama de "amigo(a)" rouba descaradamente uma ideia estratégica sua, (e nem lhe dá os créditos!), isso não é ser amigo. Isso não é amizade.
E quando ele mente? Mas você é cego e crédulo e se nega a acreditar. Mesmo eu lhe mostrando as provas, que diabos!

Fica dando tapinhas amistosos nas costas do cara, fica elogiando o casal lindo que você e Hannah formam mas...Quando tem uma oportunidade, espinafra, humilha, mente. Até eu já provei um pouquinho do seu veneno. E ah, eu tenho vivido para dar o troco. Espero um ano, dez anos, o tempo que for necessário, mas eu devolvo os desaforos corrigidos.

Minha dúvida é: por que você faz o que você faz, afinal? (É pra ser redundante mesmo!)
É inveja? 
É medo? 
É por que você é maquiavélico mesmo? 
Ou psicopata? 
Ou sádico? 

E quanto a mim, existiria alguma maneira de te parar? 
De acabar com isso? 
Enquanto a resposta não vem eu vivo e deixo morrer...
...A propósito, o mui amigo perdeu o respeito comigo faz tempo.