Depois daquele telefonema,
aquela sensação de borboletas no estômago deu lugar a uma sensação que devo
descrever como conforto. Eu me senti confortável em
te receber de volta à minha vida. A ponto de perceber que a
minha preocupação em constatar que eu não havia te magoado tanto quanto supunha
parou de incomodar. Apesar do esforço (e depois
da falta de) não nos encontramos. Eu não ia me esforçar para
sair do trabalho mais cedo apenas para te ver e ouvir as mesmas desculpas
esfarrapadas.
Eu estava certa. Sim, eu gostava de você. Eu não gostava era que
desdenhasse da minha inteligência. Em um feriado, a gente se
encontrou por acaso. Eu como sempre, de folga.
Você trabalhando. Eu te dei uma gelada. (Na verdade te dei a ignorada do milênio). Você ligou de volta cobrando
uma explicação e...Eu não atendi, mas não foi de propósito, foi porque
simplesmente não ouvi o telefone tocar. Naquele mesmo dia nos
encontraríamos de novo. Então conversamos. Segue o diálogo:
Você: Por que você não me
atendeu?
Eu: Não ouvi o telefone
tocar, a propósito, você não pode me telefonar do trabalho...
De cara fechada, você
seguia, dizendo que eu estava muito brava.
Eu: Não estou brava, eu só
não acho saudável te encontrar como se fosse uma consulta médica...
Você: Eu também não acho
saudável, mas é que, de verdade, eu não tenho tempo.
Eu: Quando a gente quer, a
gente arranja tempo, é só querer.
Você: Me entende, eu tenho
que ajudar meu pai, meus pais me superprotegem, me controlam e...
(Pausa, a outra parte
envolvida em questão tem 32 anos, e não 17, como você suspeitou)
Eu: Desculpe, você é homem,
que papo é esse de superprotegido?
Você: Mas você também é
(superprotegida)...
Eu: É outra história. Sim,
eu sou, mas eu não vou entrar em conflito com minha família por causa de um
cara que talvez não me mereça...
Você: Então não te mereço,
não valho a pena?
Eu: Do jeito que você tem se
posicionado até aqui, em relação a nós dois, não.
Não sei se hoje caberia um
namorado na minha vida, não é o que eu tenho almejado, mas você sempre quer que
tudo seja do seu jeito, no seu tempo. E as coisas comigo não podem mais ser
assim.
Você: O que quer dizer?
Acabou de dizer que não quer nada sério...
Eu: Não põe palavra na minha boca, você entendeu
o que eu disse. E para ser mais específica, se eu não valho um convite para um
cinema ou um pagode, meu amigo, eu não valho nada para você.
Você (em choque): Agora você
está colocando palavras na minha boca...
Eu: É um fato, você conduziu
uma situação, gosta de mim, mas não quer correr o risco da escolha. No seu
lugar, eu também estaria com medo.Na verdade, eu até escolhi.
Você: O que você escolheu?
Eu: Escolhi me afastar.Não
vou perder energias em algo que não dá em nada.
Você: Não precisa ser
assim...
Eu: Não é questão de
precisar, é questão de que vai ser, no que depender de mim.
Neste momento, se
considerando muito irresistível, me puxou para junto do seu corpo e me deu um
beijo. Como eu nunca gostei discutir com alguém e logo em seguida me agarrar
com a pessoa, me desvencilhei de você imediatamente.
Eu: Boa noite, a gente se vê
por aí.
Você: ...
Tempos depois, em uma
movimentada avenida de São Paulo, fiquei pensando sobre a possibilidade de ver
um conhecido por ali e te encontrei. Desta vez ambos estávamos correndo. Diante
do seu apelo, eu te dei um beijo no rosto, apressada. De uns tempos para cá, o
destino sempre providenciava um encontro. Antes, quando eu queria te ver, não
conseguia. Agora, sou brindada com
encontros casuais. Como a vida é irônica, às vezes.
Depois desse dia não nos
vimos mais. Não tenho raiva, mágoa, nada disso. É apenas uma história que eu
deixei morrer. Live and let die.