Não,
você não faz ideia. E não, não queira fazer, por favor. Viver com o coração aos
saltos, correndo contra o tempo, sorrindo e blefando, disfarçando sensações.
Tentando abraçar o mundo. Mas o seu mundo parece um armário bagunçado: a
qualquer momento, as coisas que estão lá dentro cairão sobre sua cabeça. Ou
sobre àqueles que te cercam.
E
então tudo que estava no armário caiu. Eu punha uma peça no lugar e você ia lá
e tirava. Ou se esquecia de guardar algo. E então aconteceu: tudo que estava dentro
do armário caiu!
Na
primeira vez eu lamentei.
Na
segunda vez achei que foi falta de sorte.
Na
terceira vez foi um pequeno detalhe que pôs tudo a perder.
Na
quarta vez eu já não soube mais o que pensar.
Então
deixei de ver e comecei a querer enxergar. Precisava de explicações. Um castelo
de cartas é uma boa analogia também. As cartas voavam enquanto assistíamos mais
uma vez, passivos. A única diferença é que disfarcei ao máximo as minhas
emoções. Obviamente que minhas mãos tremiam muito enquanto tentava montar tudo
de novo, mas eu jogava o seu jogo como poucos jogaram: eu blefei, menti, omiti,
escondi. Enquanto isso, você estava por aí, mais ou menos como aquele cara do
parque do livro da Liz Gilbert: joga uma bituca de cigarro acesa no chão, no
capim seco, que logo está em chamas. Alguém te avisou que estava pegando fogo mas
você ignorou. Você só percebeu que o parque todo estava em chamas tarde demais.
E ao olhar em volta, se perguntou: fui eu mesma que fiz isso? Te digo que foi.
Não
estou te acusando, entenda. O seu desprezo pelas regras passou dos limites.
Você não é uma heroína. Nem sempre é possível dar conta de tudo. Precisamos
escolher nossas prioridades. Precisamos da rotina. Talvez a rotina e a sisudez
fizessem de ti alguém com disciplina.
Não me leve a mal, eu quero o seu bem.
Finalmente
enxerguei que no fundo tudo o que você quer é fugir. Para bem longe de tudo, de
todos. Recomeçar. Mas existe uma bagagem que você não consegue deixar para
trás. Nem pode levá-la contigo, por enquanto. Talvez daí venha o seu desprezo
pelas regras e o gosto desmedido pela aventura. Você quer ser pega em
flagrante. Quer ser expulsa desse jogo porque tem medo de sair por conta própria. Não quer bancar
a consequência de partir.
Mas
o que você ganha, se você ficar? Dedos apontados para ti. Todos os olhos
voltados para ti, quando passa? As pessoas dizendo em suas costas como você
sempre faz tudo errado, sempre? Por mais culpa que poderia ter, acha que é
digno passar os dias sendo a eterna ré?
Já
passou da hora de mudar seu ponto de vista. Já te disseram tanto e o tempo todo
que você não faz nada direito que simplesmente você tomou isso como uma verdade
universal. Por mais que às vezes você me magoe, eu não vou pagar na mesma
moeda. Quero te dar o presente da confiança, para quando você parar para pensar
perceba que, mesmo errante, as coisas acontecem por tua influência. Você ainda
pode acertar, acredite. Basta começar por essa bagagem que mais atrapalha do
que ajuda. Não vai agradar a todos, é óbvio. Mas vai agradar a você. E é isso o
que importa. Me diz, o que você está esperando pra começar?