Desde que rompi com James nunca mais namorei.
Não é porque eu traumatizei e me fechei para os relacionamentos. Longe disso.
Disposição eu sempre tive.
Mas a safra não tava boa e quando conheci alguém interessante, o que não demorou muito, eu ouvi uma série de desculpas esfarrapadas: "não me envolvo fácil", "não assumo compromisso fácil", "você está pulando etapas", "você está sendo precipitada", etc.
P@rra!
Bem, como eu sou inteligente (só que não) eu insisti mais.
Mas a resposta tava tão na minha cara, tão fácil que, sinceramente, era melhor ele ter dito desde o começo. Era melhor ter sido honesto mesmo. Me arruinaria no primeiro momento,
mas eu teria me refeito depressa. Mas não. O demônio foi me dando corda, e eu muito tola,
fui me enforcando.
Resultado: se tivesse desde a primeira DR sem R que simplesmente não estava mais a fim de mim, a vida seria mais fácil para mim.
Vamos a segunda vez que isso aconteceu. Era primavera, o guri não era da faculdade, não era indicação de amiga. Havia descoberto aquela joia por conta própria, enquanto estava perdida na Zona Oeste.
A gente ficou uma vez. E a ficada acabou sobrevivendo após o combo dormir no cinema + babar no colo do rapaz + cair na escadaria no fim da sessão (bem, se você tiver lendo isso, já pensou: depois dessa tu não arruma mais nada, diaba!). Pior: ele havia mencionado a palavra maldita "namoro".
Pois bem, no segundo encontro, beijinhos pra lá, beijinhos pra cá. Uma adorável e escaldante
tarde de verão no Parque da Independência porém...
... Dani, a gente precisa conversar.
- Sobre?
- Sobre nós?
E eu toda desconfiada, e com razão, como viria a descobrir mais tarde.
- É. - ele disse, olhando para os pés ao mesmo tempo que passava as mãos na cabeça.
Eu olhava para ele de soslaio, até que ele cuspiu as palavras: - eu não posso namorar com você. Acho que você tá na pegada de lance sério e eu não posso te iludir a respeito. Não posso te dar algo que ainda não tenho para oferecer.
Nessa hora tenho de usar aquela expressão que eu tanto amo "meu estômago despencou para os pés". Eu estava sem emprego, sem dinheiro e sem amor. Que ótimo.
Ele continuou apresentando suas razões: tinha acabado um namoro há dois meses, ainda tinha esperança de voltar com a mina, não queria me arruinar (entenda-se me levar para a cama) como os amigos dele faziam e etc.
Eu, sem um pingo de dignidade, ainda pergunto: - a gente não vai nem ficar, nem se beijar?
E ele, meio tímido: - não, mas eu quero continuar a amizade.
Eu meio descrente: - vamos tentar.
E tentamos. Naquela mesma tarde nos divertimos como nunca. E nasceu sim uma amizade incrível, até perdermos contato porque...Ele arrumou uma namorada (eu suspeito) !!!!
E a terceira vez aconteceu recentemente. Com o tempo me deixando cada vez mais farta, fria e cínica, mas sem perder a ternura, fui a um encontro inocente.
(Nota: nos dois casos acima, como a garota que estava há anos sem ir num dating, eu cometi a heresia de ir sem make. E com chinelinho de dedo, cúmulo da desencanação).
Voltando ao último caso: fui eu ao dating, de chinelo de dedo de novo, mas trabalhada no Vanilla Lace, da Victoria Secret (pra mim tem cheiro de massa de bolo, mas eu uso para agradar os boys magia, fazer o quê), com uma cor sutil nos lábios, enfim, tava sexy no estilo Dani way of life.
Enfim, fui na boa. Era um encontro. Mas ao mesmo tempo não era.
Durante o filme, o moço me olhava de um jeito tão desconcertante...Eu olhava de volta, mas desviava o olhar quando percebia que o clima ia esquentar, sabe se lá porquê.
Num dado momento, o moço aproveitou e agarrou minha mão. E ficamos de mãos dadas,
como nesse trecho do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas: "Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco [...] pegando-se, apertando-se, fundindo-se."
Bem, depois de muito charme e um ar blasé da minha parte, nos beijamos.
Saímos de lá e ficamos tagarelando animadamente, até que na hora de ir embora, o moço me diz: - Não estamos namorando, tá?
E Daniela, delicada como um elefante numa loja de porcelana Ming:
- Quem falou que eu quero namorar com você?
Houve outros encontros, outras pessoas, outros mistérios.
O primeiro caso que narrei foi o mais dolorido e difícil de aceitar o fora porque...Me apaixonei. De verdade. E quanto mais eu me aproximava, mas eu era rejeitada.
Em todos os casos fiquei cabreira porque os moços sempre defenderam seus argumentos como se eu fosse uma guria que não servisse para ser namorada. Como se eu servisse
para ser "lanchinho". Agiam como se eu tivesse posto uma arma na cabeça deles e exigisse que eles fossem meus namorados. Ameaçados. É assim que eles se sentiam.
Me considero (nos dias de bom humor) uma guria meiga. Ainda mais com os boy magia.
Na época do primeiro caso eu falhei horrivelmente, e hoje sei que dentre outras coisas, ainda
não havia processado a perda de James. Aquele cara era a pessoa certa na hora errada.
Ele percebeu isso. Eu não.
Por outro lado, dá uma vontade de pegar esses infelizes pelo colarinho, olhar no fundo do belo par de olhos castanhos que cada um dos três tem e perguntar: - escuta, você não tá se dando muita importância não, rapaz? O que te faz pensar que eu quero namorar com você?
Fui esnobada? Sim, mas alfinetei.
Esse gostinho ninguém me tira.
Na primeira e segunda vez não disse isso, mas na terceira vez foi irresistível.
Cruel?
Sim. Mas quem foi cruel primeiro?
Os guris hoje (e sempre) parecem querer o melhor de dois mundos: - querem a mocinha bem-predada e fria pra casar e a quente, porém sem talento para as prendas domésticas para os momentos mais hot. Cada escolha, uma renúncia, já cantava o Chorão.
E quanto a mim? Bem, enquanto flerto bastante e com o coração aparentemente "blindando",
vou dando um tempo ao meu coração, como o diz o título deste post. E faço muito bem.