Eu
bem queria viver longe das lembranças desse passado que parece não ter fim. Por
mais que eu avance na estrada da vida a sensação que eu tenho é que sempre
volto para aqueles trechos doloridos e íngremes da minha estrada
mal-pavimentada.
Antes
eu achava que era só eu que vivia de ilusão. Que não sabia perdoar tampouco
seguir adiante. De alguma forma eu sempre estou me acusando de ter feito algo
errado. Ou quando não é isso, estou acusando você de ter feito algo errado.
Parece até que não temos direito a tentativa e erro. Por quê?
Por
que parece que somos melhores do que os outros? Somos melhores em quê? O que
nos coloca acima dos outros? Nada. Eu não sou diferente. Nem você é. Nós somos
tão iguais a qualquer casal que detesta admitir que deu errado. Ou admitir que
foi um casal um dia.
Paradoxalmente
somos diferentes porque sem perceber criamos uma expectativa nos outros que
acompanhavam a novelinha de longe e agora que acabou a gente não tem mais o que
fazer para corresponder as frustrações alheias, que projetavam na gente o que
eles mesmos não podiam ou queriam para suas vidas.
E
é essa expectativa maldita e não correspondida que sempre nos cobram sem
querer, querendo. Quem disse que não podemos ser felizes separados. Nesse
momento da nossa vida tudo o que queremos é sermos felizes longe um do outro,
sem crise.
Quem
disse que não podemos nos apaixonar por outras pessoas? Construir uma nova e
feliz história ao lado de quem a gente escolheu?
Ah,
mas eles disseram que não podiam. Não em nossa frente, é claro. Mas aos
sussurros. Mas quando estamos sozinhos e distraídos lá vem eles nos provocar,
anunciar o que está passando na vida do outro e vice-versa.
Não
sei você, mas me incomoda muito. Me incomoda porque o fato de renunciar você
faz parecer que todas as minhas escolhas, tudo o que eu fiz até aqui, foi tudo
errado. E isso vale para você, também. Depois que selamos o fim, nenhuma
escolha pareceu ser correta.
Nesse
momento peço humildemente licença para dizer a vocês que se alimentam de
expectativas, romances impossíveis e contos de fada para, por favor, nos deixar
em paz. Nos deixem beber, cair, levantar, errar, acertar. Deixem!
Me
deixe com minha vida solteira e feliz. Deixe-o viver feliz com a mulher que ele
escolheu para dividir a cama, as contas, os sonhos. Aceitem que nosso amor não
foi feito para durar.
Vivam
e deixem a gente as nossas escolhas, sejam elas certas, sejam elas erradas.
Estamos entendidos?
(Vou
tomar o silêncio de vocês como um “sim”. E finalmente por não arrastar mais
essas correntes de culpa sentirei o vento no rosto que tanto eu quanto você
gostamos de sentir pois assim nos sentimos livres. Vou sentir o gosto da
liberdade na minha boca vermelha e vou te tirar para dançar.)
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