9 de julho de 2012

TELEPHONE


Sexta-feira, 18h13. Leona estava sozinha em sua sala, analisando mais uma pesquisa de mercado. Olhava aqueles números com um certo medo, pois não estava conseguindo encontrar um diagnóstico certeiro por trás daqueles "50% ambos os sexos, moram em sua maioria na Zona Sul e tem ensino superior completo". Na mesa ao lado Pablo parecia concentrado demais em explicar para sua namorada, Andressa, que só sairia após as 20h do escritório pois tinha esquecido que era dia de rodízio do carro dele.
A chefe de ambos, Amanda, tinha saído da sala para tomar um café e esquecido de levar seu telefone. Leona só percebe isso quando o dito cujo toca discretamente. Contrariando as regras de etiqueta que diz que não se deve atender o celular alheio, ela atende o telefone e dá um sorriso torto, cheio de satisfação: após duas semanas, finalmente iria ouvir a voz de Caco Del Bianco: cliente, amigo de Amanda e mais do que isso, o homem que andava se jogando para cima de Leona, provocando-a dizendo desejá-la.
Já dizia o ditado "onde se ganha o pão, não se come a carne", porém cansada e, principalmente, seduzida por tantas investidas, Leona resolveu ceder. E para seu choque, ao dizer que "sim, aceito sair com você" o moço simplesmente desapareceu e deixou a mulher cheia de dúvidas, magoada por causa de seu suposto desprezo e muito furiosa,vale ressaltar.
Então naquele momento, ver o nome dele iluminando o visor do Blackberry foi um misto de surpresa e raiva, também. Porque desde o dia do "sim" ele simplesmente estava evitando-a. Ela até chegou a ligar para ele, mas foi tratada com uma certa frieza e resolveu deixar as coisas como estavam.Pelo bem de sua dignidade e orgulho.
- Amanda? 
- É a Leona.
- Oi Lê, tudo bem? 
Deveria ter fingido desdém mas como sempre, fez tudo errado e acabou soltando:
- VOCÊ ME ABANDONOU!
Nesse momento Pablo olha para ela de soslaio, tentando imaginar com quem ela falava naquele instante.
- Eu não te abandonei, só as coisas que andam meio corridas...
- Tá, conta outra.
- Mas é verdade.
- Eu não acredito.
- Mas e aí, você tá usando aquela calcinha Fruit de La Passion?
- Para que você quer saber?
Silêncio. Enquanto isso, ela se censura gritando "Burra, burra, burra!Para de dar moral para este otário". E muda de assunto.
- Você ligou para falar com a Amanda, mas infelizmente ela não está. Assim que ela retornar à sala, eu peço para ela te ligar, ok?
- Tá certo. Você vai trabalhar no feriado?
- Eu vou. Você vai?
- Vou ter que vim. Não acabei a campanha da ONG ainda.
- Bem-vindo ao clube dos que trabalham no feriado.
- Então...A gente se fala mais tarde...
- Piada, né? Só falei com você porque Amanda esqueceu o telefone dela na minha mesa, mas assim, tenho certeza de que não nos falaremos tão cedo. 
Caco não pergunta o porquê do mau humor de Leona. E finge não perceber a tirada irônica dela. Apenas se despede: - um beijo, fica com Deus. Ela apenas desliga o aparelho, sem se despedir. Ao ver a mensagem da chamada encerrada, aproxima o telefone da boca e diz, como se ele ainda pudesse ouvi-la: FROUXO!
Pablo sorri e pergunta: é esse aí o cara que anda reduzindo o seu rendimento?
É. - responde ela, se sentindo infeliz.
***
Cinco minutos depois, Amanda retorna à sua sala, olha o aparelho e diz: 
- Caco me ligou!
O alerta amarelo soa na mente de Leona. Porque agora Pablo sabia a identidade do sujeito que andava perturbando Leona. E sorri para ela, surpreso. Agora ela teria de contar com a colaboração dele para guardar mais um segredo.

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